Sempre que penso a respeito do exercício de escrever — isto é, a escrita enquanto trabalho efetivo, e não simples inspiração —, lembro-me do historiador e romancista Shelby Foote , infelizmente pouco conhecido no Brasil. Um dos aspectos surpreendentes no seu trabalho é o fato de ele jamais ter usado um computador. Na verdade, escreveu os três volumes de sua épica narrativa a respeito da Guerra Civil — The Civil War: A Narrative —, mais de 1 milhão de palavras, usando uma caneta de caligrafia, uma dip pen , que o obrigava a, sistematicamente, mergulhar a pena no tinteiro e, quando chegava ao final da página, secar a tinta com o mata-borrão. Gosto de imaginar Foote escrevendo. Ele passava o dia inteiro de pijama — e demorou 20 anos para terminar The Civil War . Vinte anos. Dia após dia, sentado à escrivaninha, mergulhando a pena no tinteiro, obrigado a trocar de pena após certo volume de páginas, e novamente escrevendo. Um lento, concentrado e amoroso esforço. Vinte anos de tra