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Caixa do Correio # 27


Teoria Geral do Esquecimento –  José Eduardo Agualusa  I 2. A Vida Breve – Juan Carlos Onetti  I 3. Ciranda de Pedra – Lygia Fagundes Telles  

             ETIQUETA: JUAN CARLOS ONETTI
(Montevidéu, 1908 - Madrid, 1994) Romancista uruguaio, considerado não só o escritor mais importante que deu a literatura de seu país, mas um dos maiores criadores de ficção em língua espanhol do século XX.


“As unicas palavras que merecem existir, são as palavras melhores que o silêncio.”

                                                                                        Juan Carlos Onetti
Segundo filho de um funcionário da alfândega descendente de emigrantes irlandeses (ONetty parece ter sido o nome original) e uma brasileira que pertencia a uma família de gaúchos latifundiários, desistiu da faculdade de direito no meio do curso, e desde muito jovem, freqüentava as redações de jornais e revistas de ambas as margens do Rio de la Plata, vivendo alternadamente em Montevidéu e Buenos Aires, cidade esta que se instalou pela primeira vez, e agora independente dos pais, quando ele tinha apenas 20 anos.

Domiciliado em Montevidéu, entre 1955 e 1975, foi diretor de bibliotecas municipais no distrito montevideano e, em seguida, membro diretivo do conselho da Comédia Nacional, até o último desses anos foi acusado de atividades subversivas pela ditadura que governou seu país. Com os achaques, decidiu se exilar em Madri, de onde não saiu mais, até sua morte. No Uruguai tinha ganhado o Prêmio Nacional de Literatura em 1962, e na Espanha, recebeu o Cervantes em 1980, e um ano antes o dos críticos por Dejemos hablar al viento, votado por especialistas por unanimidade como o melhor livro de língua espanhola publicado em 1979.

Depois de suas primeiras histórias (ele ganhou em 1934 um concurso de gênero, organizado pelo jornal La Prensa de Buenos Aires) Seu primeiro romance foi El pozo  (1939), que os críticos têm considerado a mais clara da história hispânica da chamada literatura existencialista, difundidos por Sartre e Camus, que dominaria como tendência, durante a próxima década, a narrativa ocidental. Depois escreveu: Tiempo de abrazar (1940), Tierra de nadie (1941), Para esta noche (1943), Los adioses (1954) y Para una tumba sin nombre (1959), cuentos Un sueño realizado (1951), La cara de la desgracia (1960), El infierno tan temido (1962) y Tan triste como ella (1963).

Mas a passagem à maturidade e autonomia absoluta de uma obra que trouxe não só uma linguagem sem precedentes na narrativa latino-americana, mas um universo conjectural que os personagens e sequências transitavam de um livro para outro, enriquecendo de forma definitiva o conjunto, chegou a escrever La vida breve v (1950), sua primeira obra-prima, que mais tarde iria continuar em dois outros títulos igualmente magistrais: O estaleiro (1961) e Juntacadaveres (1967). Estes romances constituem a "trilogia de Santa Maria" por passarem todas as três na mesma cidade imaginária e ser habitada pelas mesmas pessoas, que vão se sucedendo em destaque de um livro ao outro, sem deixar de ser uma obra fechada e auto-suficiente em si mesma.

Os temas e atmosfera que vão configurando a produção de Onetti são comuns e sórdidas: solidão, prostituição, rotina e dinheiro. La vida breve (incluindo o já mencionado) é por seu realismo exasperado uma verdadeira obra-prima; narra o desenrolar de um ser tímido e sem fôlego, José María Braussen, que inventou seu alter ego, José Maria Arce, personagem violento que planeja um crime. Nele se da à fundação de Santa Maria, uma cidade mítica e fictício (como Macondo em Cem Anos de Solidão, de García Márquez, e Comala, e Pedro Páramo, de Juan Rulfo), de indeterminado local rio-platense, cenário de todo o ciclo narrativo.

O estaleiro e o Junta cadáveres focam a história do personagem Larsen. Este último livro, embora escrito mais tarde se refere a eventos anteriores de Larsen, quando ele planeja organizar cientificamente um bordel na sociedade hipócrita de Santa Maria. El Astillero (o seu título mais famoso) relata o delírio e a derrota do personagem, enredado na reorganização do estaleiro de um tal de Petrus e na sedução da filha deste.

Já em seu exílio na Espanha, Juan Carlos Onetti ainda acrescentou um estremecedor epílogo para a série com densas páginas de Dejemos hablar al viento   (1979), uma espécie de apocalipse em sua cidade imaginada e seus reiterados habitantes; trata também sobre uma personagem de impreciso caráter, Medina, que por sua vez exercia medicina e pintura (sob a proteção de uma prostituta) e de volta para Santa Maria, atua como curador, mergulhando numa total degradação física e moral.

O ciclo se completa com dois títulos que recuperam histórias que ocorreram na vizinha lavanda ou no deterioradas e o último refúgio do Monte (ambos igualmente imaginários), que fecham com esplêndida contundência a proposta narrativa do autor uruguaio: Cuando entonces   (1987) esse testamento da ficção Onettina que foi publicado um ano antes de sua morte e intitulado Cuando ya no importe (1993).


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