Por estes dias, precisei viajar a
trabalho para o interior da Paraíba. Depois de aterrissarmos em João Pessoa,
alugamos um carro e seguimos pelo semiárido paraibano por cerca de 500 km.
Chegamos no final da tarde de um
domingo qualquer. O sol morria lentamente no horizonte, delineando um dia quase
perfeito, contrastando com a pobreza da cidade.
No decorrer da semana, notei algo
que até então fugia da minha compreensão. Sempre que passávamos pela entrada do
hotel, havia um menino sentadinho na soleira da porta. Geralmente de camisetinha
de escola municipal, shorts e chinelinhos surrados. As pessoas entravam, saiam,
e ele ali, calado, cabecinha baixa e olhinhos entristecidos.
Certo dia, precisei voltar mais
cedo para o hotel. Era quase horário do almoço. Como não daria tempo de pegar o
bandejão da fabrica, decidi que era hora de me aventurar em algum restaurante da
cidade. Como não sabia bem que direção tomar, perguntei ao menino se ele
conhecia algum restaurante ali por perto. De maneira ingênua, ele gesticulou o
braçinho, me apontando a direção.
Fingi que não tinha entendido
muito bem, fazendo com que ele arregalasse os olhos surpresos. Perguntei se ele
não estava com fome, dando como desculpa
o fato de não gostar muito de comer sozinho e que talvez eu não conseguisse chegar
por conta própria até o restaurante.
Deixei um aviso na recepção do
hotel, dizendo que o menino não tinha sumido, estava comigo almoçando no
restaurante do outro lado da esquina.
Era um ambiente simples, daqueles
que você monta o seu próprio prato e paga por peso. Logo ele se enfiou no meio
dos demais, na sua maioria trabalhadores do comércio. Foi então que ele voltou
até onde eu estava e me perguntou se podia comer qualquer coisa que tinha ali.
Respondi, ‘aquilo que você tiver vontade de comer’.
Arroz, feijão, bife à milanesa,
batata frita e para descer uma garrafa de Coca-Cola. Na saída, tomamos sorvete.
Deixei-o no hotel e voltei para fabrica.
No finzinho da tarde, quando
retornei para o hotel, lá estava ele sentadinho no mesmo lugar. Quando me viu,
seus olhinhos não estavam mais abatidos, eles brilhavam. Já os meus, se cheiram
de água.
Acho que o problema dele era
fome.
A poesia( da vida ) tem comunicação secreta com o sofrimento do homem. Pablo Neruda
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