Hoje, ela acordou bem cedo. Seus passos pela casa, era de quem pisava em nuvens. Preparou o café, arrumou a mesa e saiu. Não falou uma única palavra, nem mesmo num pedaço de papel .
Todos estávamos preocupados. Ela nunca foi de sair assim, ainda mais num dia de semana. Meu irmão, fã do escritor Arthur Doyle, fazia as vezes de detetive, buscando pistas pela vizinhança. Meu pai, sentado em sua poltrona feito um paxá do Império Otomano, emitia palavras monossílabicas de quem vê tudo por um angulo superior.
Pouco antes das onze horas, ouvimos o
que pareciam ser vozes diante do portão. Eram beatas tagarelando. Entre elas
minha mãe, muito religiosa, tinha acordado cedo para acompanhar a procissão do
padroeiro da cidade – São Sebastião.
Talvez por isso, o pouco ou quase nenhum comentário do meu pai.
Ao entrar em casa, notei que trazia
em umas das mãos um ramo de rosas. Vi quando cumprimentou meu irmão, meu pai
e se dirigiu até a cozinha para preparar o almoço. Na pia, colocou as rosas num jarro com água, levando-o até à mesa de centro da sala. Ao me aproximar do jarro, notei que entre as rosas, havia uma em especial com coloração opaca. Não era natural - viva e perfumada - como as demais. Era uma imitação de rosa.
Quando questionei minha mãe se ela sabia que uma de suas rosas era de plástico, e que não fazia o menor sentido coloca-la na água, junto com as demais, ela me respondeu :
- As coisas nem sempre fazem sentido. Às vezes, a
vida se torna falha, insuficiente e imperfeita na representação do mundo
interior.
Então, eu me calei.
Então, eu me calei.
Alécio Faria
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