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Crônicas do Cotidiano - Passeio no Zoo

Durante a semana, não se falou de outra coisa naquela casa, a não ser pelo passeio até o zoológico. O calendário, colado propositalmente na porta da geladeira, acudia o filho de 6 anos, que volta e meia perguntava ao pai se faltava muito para o fim de semana chegar.

Na escola, a professora do primeiro ano, dizia ao garoto que o pescoço da girafa ficava em meio às nuvens, e que lá de cima, ela conseguia ver os pássaros e a Deus, bem de pertinho, chegando até mesmo a trocar um dedo de conversa com o -  todo poderoso. “Girafa não fala”, pensou o garoto. Mas de ver os pássaros bem de pertinho, ah, nisso sim, ele acreditava.

Quando o garoto já consumia suas últimas esperanças de visitar o zoológico, o tão aguardado dia chegou, e com ele, muita chuva e trovoadas. Para ele pouco importava, havia muito sonhava em conhecer o gorila Tião, a zebra Léo e a girafa Berenice: mas, o passeio aquela manhã de domingo, tinha sido um verdadeiro desastre. Nem mesmo os animais se arriscavam em permanecer debaixo daquele aguaceiro, certos que seriam acometidos por uma gripe.

Era quase horário de almoço, quando o pai, exausto, deu o[não] passeio, por encerrado. Voltariam outro dia, quem sabe no próximo fim de semana  - desde que fosse com sol. Contrariado, o garoto deu uma última olhada para a jaula do gorila Tião, como se buscasse uma resposta ou um alento, antes de cruzar os bracinhos, e sair todo enfezado, atrás dos passos do pai.

No caminho, certo de que o garoto pediria para usar o banheiro, logo que entrasse no carro, o pai parou numa lanchonete, na saída do zoológico.

Para incentivar o filho a fazer xixi, assim como seu pai o ensinara, ele se posicionou em um dos mictórios, esperando que o filho repetisse o mesmo gesto.

O garoto, na tentativa de abrir o zíper da calça, notou que dentro do mictório, havia algumas bolinhas brancas e um punhado de gelo. Quando se preparava para pegar uma das bolinhas, uma tapa inesperada foi dada em sua mãozinha.

- Não mexa aí, que é sujo, garoto! Disse o pai com tom reprobatório.

O garoto que até então só queria saber o que eram aquelas bolinhas brancas, respondeu:
- Pai, você não têm que bater em mim, e sim, me ensinar.

Naquele dia, não se viu, o macaco Tião, a zebra Léo ou a girafa Berenice. No entanto, os bichos nunca ensinaram tanto para um pai.  


Fim

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