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Caixa do Correio # 18


O Pai Goriot – Honoré de Balzac



                      ETIQUETA: BALZAC

Em Paris, nos primeiros anos da década de 1820, a sombra de um homem esgueirava-se na noite alta entre o Boulevard du Pontaux-Choux e a rua Beaumarchais. Seguia desta vez os passos de um trabalhador e sua mulher. Escutava-lhes os passos, observava-lhes os sapatos rotos, o caminhar desengonçado, sentia-lhes as privações e intuía quais seriam seus desejos. Acompanhava-os a distancia, discreto como um bom fantasma, até que o casal sumia numa ruela qualquer.

Mais tarde ainda, se o clarão da lua permitisse, tratava de alcançar o cemitério Pere Lachaise, onde perambulava horas entre as tumbas daqueles mortos ilustre. Olhava para as lápides buscando inspiração. Talvez aquelas eminências do passado, abrigadas nas tumbas, indicassem-lhe mediunicamente qual o melhor caminho para atingir o coração frio daquela bela cidade, que se esparramava lá embaixo como que a seus pés. Da parte mais elevada do famosos mortuário, contemplava, ao longe, iluminadas, a Coluna de Vendome ( aquele pilar de bronze erguido por Napoleão com os canhões de Austerlitz ) e a Ababada dos Inválidos. Naquele eixo formado por aqueles dois grandes monumentos concentrava-se o tout Paris, era dali que os deuses da glória determinavam quem eles deveriam abençoar.

Dando vida e corpo a essa sombra, que vagava pelas ruas e cemitério de Paris do princípio do século XIX, veremos que ele não alcançava mais de um metro e meio, era feio, com dentes horrivelmente estragados, pouco asseado e muito mal vestido. Recentemente tomara a difícil e audaciosa decisão de tornar-se um escritor profissional. O seu nome era Honoré Balzac, que, com pouco mais de vinte anos, assumira a firme determinação de “ fazer com a pena o que Napoleão fizera com a espada “. As estranhas caminhadas, o contato com a gente comum e o cenário bizarro, faziam parte das emanações que esperava receber em várias iniciativas como impressor e até com notável previsão, promovendo o livro de bolso como uma solução para a popularização da literatura. Nunca teve, porém, sucesso em seus saltos para além do mundo das letras. Ao contrario, só acumulou decepções e duvidas, obrigando-o a ser  tornar num exímio contorcionista para esgueirar-se dos credores ( inclusive deixou um verdadeiro manual ensinando como escapar deles).

Cemitério Pere Lachaise



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