"Montevidéu, outono de 1977. O uruguaio Miguel Martinez consegue realizar, ainda que tardiamente, o sonho de menino - o de conhecer o Rio de Janeiro. Contudo, não poderia imaginar o quão sem graça poderia ser viver na cidade maravilhosa, até encontrar Ana Clara Pernambuco - repórter do Diário de Notícias e responsável pela ONG Babilônia Azul, numa das maiores favelas cariocas. Morando num país periférico, belo e exótico, porém esquecido e marginalizado pela ditadura militar dos anos 70, Ana Clara o envolverá numa arriscada investigação sobre a indústria de bebidas."
Autor: Alécio Faria
Gênero: Drama
Número de páginas: 160
Data de publicação: 2016
Informações adicionais: livro lido em versão digital.
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Aventura embalada ao ritmo de Tim Maia
Miguel Martinez sempre sonhou em conhecer o Rio de Janeiro. Como é comum acontecer com estrangeiros, ele ouviu falar tudo de bom sobre a cidade e acha que o Rio é um paraíso. Nascido em Montevidéu, ele passou de simples operário da Unión Refrescos a intérprete da empresa, graças à sua paixão pelo Brasil que o levou a aprender a falar Português. A Unión Refrescos já foi uma grande produtora de refrigerantes, mas está em decadência e atualmente apenas embala os produtos, que são fabricados realmente por uma grande companhia americana, a América Refrescos. O processo é realizado em partes, e o trabalho é subdividido entre sucursais da própria América e empresas menores, entre elas a Unión Refrescos, no Uruguai.
Inesperadamente, Miguel é transferido para a sucursal brasileira da América Refrescos, e passa a trabalhar no setor de contabilidade da empresa. A princípio empolgado com a mudança para o Rio de Janeiro, Miguel acaba se desiludindo bastante. A cidade era quente demais, a rotina no trabalho era monótona, e a natureza introspectiva de Miguel não agrada aos brasileiros que ele conhece, que o consideram exibido por ser estrangeiro. Logo ele passa a viver uma vida tão sem graça quanto a que tinha na sua cidade natal, porém agora, sentindo falta de Montevidéu.
Tudo muda quando ele conhece Ana Clara Pernambuco, uma jovem e dedicada estudante de Jornalismo. Mesmo que a primeira impressão que ele tenha tido dela não fosse das melhores, logo ele se encanta por sua personalidade e pelas coisas com as quais ela se envolve, como o trabalho voluntário na ONG Babilônia Azul, que presta assistência aos moradores da favela da Babilônia.
Em seu trabalho, Miguel começa a perceber indícios de fraudes realizadas pela América Refrescos. Quando a empresa anuncia uma grande mudança em seu processo de trabalho, Ana Clara inicia uma investigação profunda sobre possíveis crimes ambientais que podem estar sendo cometidos na produção dos refrigerantes e outras bebidas da América Refrescos. A empresa, porém, tem ligações com a ditadura militar que domina o Brasil, e a busca por informações pode colocar em risco as vidas de Ana Clara e Miguel.
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"Da janela do antigo apartamento, admirava o realidade como paisagem,
antes que a paisagem, ilimitada aos seus limites inviolados,
batesse a sua porta."
O história é narrada em terceira pessoa e dividida em capítulos de tamanho pequeno. Por ser um livro curto, aliás, é uma história rápida de ser ler, apesar de seguir um ritmo um tanto lento. Quando a narrativa se acelera um pouco, os acontecimentos são oferecidos com poucos detalhes, o que encurta a história. O recurso do flashback é usado para explicar algumas situações ou contar histórias de pessoas que fazem parte do convívio de Miguel.
Miguel é um homem calado e solitário, cheio de manias, com poucos amigos, e com dificuldades para se relacionar com outras pessoas, que passa o tempo escrevendo em seu diário e ouvindo os discos de Tim Maia. Ele descobriu o cantor enquanto vivia no Rio e se encantou com o ritmo e as letras das músicas. O título do livro, aliás, é uma referência à música de Tim Maia Manhã de sol florida cheia de coisas maravilhosas, a qual eu não conhecia. Sempre ouvi Tim Maia graças à influência do meu pai, e adorei ver tantas referências a ele no livro. Conhecer a música que deu origem ao título também foi um grande prazer.
Ana Clara não tem nada em comum com Miguel, então acho que podemos dizer que esse é um caso de opostos que se atraem. Curiosa, falante, cheia de energia, ela está sempre em movimento, sempre ocupada com alguma coisa. É muito inteligente e tem muita dedicação ao Jornalismo, por isso, ao saber por Miguel que havia algo estranho nas contas da América Refrescos, ela decide investigar, ao invés de só "deixar pra lá", que era a intenção dele.
Apesar das diferenças entre os dois, o romance entre acaba sendo muito natural. Quando finalmente aconteceu, eu me vi comemorando!
Por ser uma história ambientada nos tempos da ditadura, Manhã de sol florida contém certos trechos bastante violentos e fortes, com descrições de torturas. Nada disso, porém, é desnecessário, pois faz parte do desenrolar da trama envolvendo a empresa em que Miguel trabalha.
A investigação e Ana Clara revela coisas segredos muito perigosos guardados pela empresa, mas isso não é tudo. Miguel ainda virá a descobrir mais, posteriormente. O final é bastante surpreendente, e com certeza vai agradar leitores que, assim como eu, simpatizem com o casal.
Como ponto positivo, destaco o fato de o livro ter no final uma espécie de bibliografia, explicando de onde vieram informações e fatos que fazem parte da história, bem como o que constituiu a pesquisa do autor.
Eu acredito que um único aspecto negativo foi o fato de o autor ter escrito uma história tão curta. A temática é muito interessante, assim como a época escolhida para a ambientação. Acredito que partes da história poderiam ter sido mais detalhadas, o que proporcionaria mais envolvimento por parte do leitor e facilitaria o entendimento da trama evolvendo a indústria de bebidas.
Recomendo o livro para quem esteja à procura de uma leitura leve e cheia de reflexões, sem deixar de conter ação e suspense.
http://loucura-por-leituras.blogspot.com.br/2017/02/resenha-manha-de-sol-florida-cheia-de-coisas-maravilhosas.html
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