A canção Ne me quitte pás, foi escrita pelo cantor e compositor Belga
Jacques Brel, após o termino de seu relacionamento com a também cantora e atriz francesa Suzanne Gabriello, uma de suas
supostas amantes durante a vida.
Suas músicas romperam dois estereótipos antigos: em primeiro lugar, o de que a canção poética é sutil demais para chegar ao grande público. Em letras de um lirismo e elaboração extraordinários, Jacques Brel colocou melodias envolventes, explosivas, contagiantes, que arrebatam o ouvinte na primeira audição. Em segundo lugar, ele destruiu o conceito do cantor "parado", apenas com sua voz e seu violão, bastante comum em sua época. No palco, Jacques Brel é um "ator musical", que vive cada música com uma força impressionante. Cada interpretação é uma pequena "peça de teatro", onde ele representa os personagens de suas letras com a intensidade exata, na medida certa, sem exageros. Dessa forma, Brel consegue conciliar o que parecia contraditório na época: a qualidade de suas músicas e a sofisticação da interpretação no palco. Nas décadas de 60 e 70, época da popularização da televisão, ele parece incorporar intuitivamente a sua linguagem, atingindo um público cada vez maior sem abrir mão da qualidade.
Além de seu talento sem igual, o segredo de Jacques Brel era o seu inabalável
profissionalismo: ensaiava à exaustão todas as músicas, todas as representações, todos os momentos de seus shows. Dizia que o talento era só a "vontade" de fazer alguma coisa, e não a habilidade em si. Dessa forma, afirmava que só com trabalho incansável é que poderíamos alcançar nossos objetivos.
Depois de quinze anos e mais de vinte milhões de discos vendidos, Brel decidiu abandonar a carreira de cantor, afirmando que era tempo de enfrentar novos desafios. É possível que a música tivesse se tornado uma rotina, o que era para ele insuportável. Perfeccionista, e com uma necessidade crônica de enfrentar desafios, se lançou na carreira de ator por alguns anos, com sucesso, e chegou a dirigir dois filmes. Decepcionado com a recepção da crítica para seus filmes, e já cansado do mundo do show-business europeu, cada vez mais dominado exclusivamente pela lógica do mercado, decide mudar radicalmente sua vida. Em meados da década de 70, Jacques Brel compra um barco e se aventura numa volta ao mundo solitária, apenas acompanhado pela sua namorada. No final da viagem, aportou na Polinésia e decidiu não mais voltar para a Europa. Se instalou numa casa simples, nas ilhas Marquesas, próximo de onde viveu o também genial Paul Gauguin.
Nunca mais voltaria a morar na Europa. Voltou apenas uma vez em 1977, para gravar seu último disco, de estrondoso sucesso. Nessa época ele já sofria com os sintomas de um câncer no pulmão, que tratava há alguns meses, mas que jamais conseguiria curar.
Em 1978, o mundo recebeu inconsolável a notícia da morte de Jacques Brel, aos 49 anos. Seu amigo Georges Brassens, nesse dia, disse que "Jacques Brel não está morto.
Para revivê-lo, basta que escutemos seus discos".
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